Tuesday, February 06, 2007


O HUMOR ÁCIDO DE LITTLE MISS SUNSHINE


Fazia tempo que queria assistir a esse tão elogiado longa.

Um dos principais adjetivos que tinha ouvido sobre este filme era "bonitinho". Achei então que se tratava de um filme "bonitinho", uma comediazinha leve. Tive uma bela surpresa. De "bonitinho" o filme não tem nada.

Trata-se de uma crítica mais do que ácida à socidade norte-americana (e ocidental, diga-se de passagem) travestida em uma trama "bonitinha". Talvez tal adjetivo seja dado porque a protagonista é uma atriz mirim (excelente atriz, por sinal) e porque, imagino eu, se lêssemos uma sinopse ou o argumento do filme acharíamos que é mais uma comédiazinha leve, como citei linhas acima. Mas não é. E é isso que faz de "Little Miss Sunshine" um grande filme, quase genial. Nos primeiros dez minutos, achei que fosse ser mais uma velha história sobre "ganhadores e perdedores", mostrando comicamente uma família problemática (como se nenhuma família o fosse) e que no fim alguma lição de moral tipicamente yankee seria dada. Pelo contrário. O filme alfineta a "yankee way of life" do começo ao fim de uma maneira raramente vista nos filmes, justamente por ser sutil e travestido num humor irônico e numa trama aparentemente infantil.

Não vou citar aqui todos os temas que o filme aborda, são inúmeros, que transitam entre a ridícula obsessão dos homens capitalistas por "vencer" na vida e a "adultização" das crianças que se dá não só nos concursos de miss mas que é, às vezes inconscientemente, cobrada diariamente pelas famílias, pela escola e pela mídia.

Cada cena incomoda de uma maneira tão sutil que, a princípio é impossível sair indiferente da sala de projeção. É aí que está a genialidade do filme; e ao mesmo tempo o perigo - será que todos os espectadores percebem essa genial acidez?

Espero que este filme não tenha sido tão falado e elogiado (e até recebido uma indicação ao Oscar) simplesmente por mostrar o grande talento de uma pequena atriz. (aliás, o elenco inteiro esbanja talento, assim como a direção) Torço para que, se o filme for premiado (seria incrível!), seja assistido e refletido pelo público, não apenas contemplado. Afinal, é esta uma grande função do cinema, seja ele arte ou meio de comunicação: proporcionar reflexão.

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Opa Pati, novamente tenho opinião diferente da sua. Gosto do filme, mas acho que os clichês de cinema independente são um pouco exacerbados. A crítica poderia ser um pouco mais sutil, acredito. A menina eh realmente genial. Acho que fui ao cinema com espectativas demais.
Acho que conversa bastante com "Eu, você e todos nós". Acho um primo menos falado e mais controverso. De qqer jeito, gosto mais do segundo (sim, apesar das falas artificiais... o pqna Miss tb tem, afinal) !
Um beijo. Continuo lendo seu blog, ja que anda dificil de nos encontrarmos ao vivo para falar de filmes...
Beijos
Luiza

6:05 PM  
Blogger Patricia said...

É verdade, não tinha pensado na relação que o filme tem com "Eu, você e todos nós"!
E concordo com o abuso de alguns "clichês do cinema independente".
Mas legal, continue comentando aqui, pode discordar à vontade (!) afinal é para isso que eu escrevo! :)

6:43 PM  

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