Friday, January 13, 2006




2046 - Os segredos do amor e Eros


Ontem assisti 2046-Os segredos do Amor, do diretor Wong Kar Wai que também dirigiu um dos episódios de Eros intitulado "A mão". Eu não sabia que os dois filmes foram dirigidos pela mesma pessoa mas nos primeiros minutos de 2046 comecei a suspeitar. E no final, tive certeza.
2046 conta a história de um jornalista que escreve um romance intitulado 2046, o qual se passa num trem que leva a 2046, de onde nunca ninguém conseguiu voltar e tudo é sempre igual independentemente da passagem dos dias, horas, meses. A história do romance se mescla com acontecimentos reais da vida do escritor que, assim como quem está dentro do trem vive uma eterna busca.
Já em A mão temos um costureiro que se apaixona por uma cortesã e vive um amor proibido com ela.
Sinceramente, nunca apreciei muito os filmes orientais (japoneses, chineses, coreanos), razão pela qual não conheço muito esta cinematografia. No entanto, os dois últimos filmes chineses que vi ("A mão" e 2046) ficaram marcados em minha memória. A começar pela delicadeza estética presente em ambos os filmes. A fotografia amarelada e as cores que lembram o efeito fotográfico de reversão dão um tom onírico aos filmes. Os enquadramentos também são momoráveis. Não há nenhum plano no qual o assunto principal esteja centralizado e há sempre um leve e sutil movimento de câmera o que passa ao espectador a sensação de fazer parte da ação não como um participante desta, mas como um intruso, um voyeur. O uso dos espelhos principalmente em "A mão" (em 2046 também usa-se e abusa-se de espelhos nos enquadramento, mas com menos força narrativa que no outro filme) é muito bem pensado. Há também belíssimos planos de detalhe que enriquecem intensamente. Outras duas coisas marcantes em 2046 são a trilha sonora e a interpretação dos atores. O roteiro não muito simples de se assimilar, embora seja um filme "clássico" no sentido de ter começo, meio e fim. O que fica um pouco confuso é a identidade de alguns personagens (um pouco causada pela semelhança fisica entre eles) e o por quê de alguns acontecimentos que não têm explicação concreta no filme, mas certamente têm algum propósito.
Para mim, o tema central de 2046 é a busca. Não é uma busca por algo concreto e sim por algo que falta mas que todos sabem que é inalcançável.
Um aspecto comum nos dois filmes (e recorrente em outros filmes asiáticos) é a forma como é mostrado o papel da mulher na sociedade. Elas são sempre (pelo menos nos dois filmes aqui comentados) sedutoras, apaixonantes e apaixonadas, mas ao mesmo tempo frágeis e objetos de prazer aos homens. Tanto que, em 2046 temos até, no romance que o protagonista escreve, mulheres-robô, incapazes de se apaixonar ou demonstrar emoções. E era exatamente isso que o protagonista queria de suas amantes (vivas, não robôs): que elas fossem simplesmente objetos que satisfizessem seus desejos e não tivessem nenhum sinal afetivo com eles. Não há nenhuma personagem feminina nestes filmes que não esteja nesta situação. Pergunto-me: será que ainda é esta a visão generalizada que se tem das mulheres? Isso chega a incomodar um pouco, principalmente por ser um fato recorrente.
Da trilogia presente em Eros, "A mão" é o melhor episódio, mas seu mérito está praticamente só na estética. Os outros dois, "Equilíbrio" de Steven Sodehbergh e "O Estranho Encadeamento das Coisas" do célebre Antonioni, apesar de serem cuidadosos na estética deixam a desejar no conteúdo, especialmente este último, que carece de um roteiro sólido. E não
e por falta de talento, muito menos de experiência, pois Antonioni fez obras-primas em seu passado.
Mas 2046 é uma obra que vale a pena ser vista e apreciada. Nem que seja pela sua beleza visual.

0 Comments:

Post a Comment

Subscribe to Post Comments [Atom]

<< Home