OLHOS SOBRE TELA

Wednesday, June 22, 2011

Impressões sobre MEIA NOITE EM PARIS

Woody Allen não perde a forma

Quando uma pessoa, de preferência nascida no novo mundo, vai para a Europa, sempre volta comentando sobre aqueles aspectos que saltam aos olhos dos estrangeiros, como a paisagem diversa, as pessoas simpáticas (ou não), as comidas diferentes (melhores ou piores), as construções antigas, No caso dos brasileiros, geralmente o comentário de retorno é favorável: lá eles são bonitos, educados, inteligentes, desenvolvidos, chic. Mas há um comentário que não escapa de nenhum turista: a presença da HISTÓRIA enraizada nos países europeus, coisa que para nós, americanos no sentido mais amplo, não existe da mesma forma.

Em Paris, essa história enraizada parece ser potencializada. Só o fato de estar em Paris, já é, para um estrangeiro, um encontro com ídolos e personagens dos contos da carochinha (como a criança que vai à disney e abraça A Cinderela). Parece que, ali, os personagens dos livros de história ganham vida e o turista sente-se importante por estar atravessando a mesma rua pela qual passou Napoleão, ou sentando no banco em que Monet sentou. Daí, surge o comentário que não quer calar: “Aaaah se eu vivesse aqui e todos os dias encostasse no corrimão que Foucaut segurava…”.

O fato é que Foucault, Napoleão, Monet e tantos outros ídolos já morreram. Só resta a história. E a cidade.

É a partir deste assunto que Woody Allen, com uma simplicidade que só ele conhece, desenvolve seu novo e tão comentado filme. O argumento é relativamente simples e a trama aparentemente banal, para não dizer batida. Um casal americano vai a Paris e ele, um escritor não tão bem sucedido como gostaria, se encanta com a cidade. Ela, uma moça da alta sociedade americana, encanta-se mais com os vinhos e as grifes. Até que um dia ele descobre que à meia noite num determinado ponto da cidade, um carro misterioso passa e lhe dá uma carona à Paris dos seus sonhos – no passado. Nessas viagens no tempo, encontra ninguém menos que Scott Fitzgerald, Degas, Man Ray, Tolouse Lautrec, Buñuel, Cole Porter, e outros personagens da era de ouro, na qual todos nós gostaríamos de ter vivido. A genialidade do filme está no fato de que, ao mesmo tempo em que faz uma dura e verdadeira crítica à corrente idéia de que hoje as coisas não são mais como antigamente (idéia que, como mostra o filme, não é nova), faz um elogio à cidade de Paris que, independentemente de qualquer coisa, tem um ar mágico certamente decorrente de todo esse mito que gira em torno de si própria.

Meia Noite em Paris é um filme que merece ser visto. Além do roteiro inteligente woodyallenesco, conta com um elenco de primeiríssima dirigido impecavelmente.

Uma observação minha: Fiquei pensando no por que da escolha da música “Let’s do it, let’s fall in love”, de Cole Porter ao longo do filme. Pensei, pensei, e achei uma razão, para mim, muito clara:

And that's why birds do it, bees do it

Even educated fleas do it

Let's do it, let's fall in love

Cold Cape Cod clams, 'gainst their wish, do it

Even lazy jellyfish do it

Let's do it, let's fall in love

I've heard that lizards and frogs do it

Layin' on a rock

They say that roosters do it

With a doodle and cock

Some Argentines, without means do it

I hear even Boston beans do it

Let's do it, let's fall in love

When the little bluebird

Who has never said a word

starts to sing Spring spring spring

When the little bluebell

At the bottom of the dell

Starts to ring Ding ding ding

When the little blue clerk

In the middle of his work

Starts a tune

The most refined lady bugs do it

When a gentleman calls

Moths in your rugs they do it

What's the use of moth balls

The chimpanzees in the zoos do it,

Some courageous kangaroos do it

Let's do it, let's fall in love

Se “pássaros, abelhas, enguias, siameses “fazem” (referindo-se ao “amor”), por que não fazemos também? Esta canção embalada num bom humor, diz que, no fundo, todos são iguais, e “se apaixonam”. Dizem que Paris é uma cidade romântica, e que é fácil se apaixonar por ela. Se por ali passaram Gertrude Stein, Picasso, Modigliani, etc, e eles “do it”, por que nós, mortais também não “do it” e “fall in love”? Não sei se Woody Allen pensou nisso, mas para im fez muito sentido! Let’s do it, let’s fall in love!