OLHOS SOBRE TELA

Friday, February 19, 2010

Dois europeus na corrida ao Oscar: "Educação" e "A Fita Branca"

"EDUCAÇÃO" ("An Education") - Inglaterra, dir. Lone Scherfig
Gosto dos filmes britânicos. Não pelo sotaque, não pelos chás com bolachas, não pelo humor tímido. Gosto simplesmente.
Com roteiro de Nick Hornby, conhecido pela literatura e pela abordagem de temas jovens, o filme trata dos conflitos, dúvidas e indecisões de uma adolescente lá pelos anos 50(?). Apesar da trama se passar meio século atrás, o filme não tenta fazer "tipo de época", ganhando até uma certa atmosfera pop. Todos os personagens são "justos", o que reforça a reflexão que nos é proposta, sobre até que ponto uma ordem pré-estabelecida é capaz de se impor sobre uma jovem que busca um caminho para a vida. Sem moralismos ou falsos modernismos, "Educação" equilibra muito bem os dois possíveis rumos da personagem. Aliás, na minha opinião, a superficialidade, a falsidade maquiada e a artificialidade das relações é o ponto alto de reflexão que este filme propõe. Os atores são muito bem dirigidos e a protagonista (indicada ao oscar), é excelente.

"A FITA BRANCA"- Alemanha, dir. Michael Haneke
Esse filme me lembrou alguns filmes do Bergman. A fotografia PB de Cristian Berger, como era de se esperar, é lindíssima.
A cena que mais me marcou e que acho que diz tudo é aquela em que um garotinho entra num quarto com uma cinta para apanhar do pai. Com maestria, a câmera não entra no quarto - fica do lado de fora, parada em frente à porta fechada e só se ouvem os tapas e a reação do menino. Silêncio.
Personagens frias, geladas (tão geladas quanto a neve dos belíssimos planos das paisagens do vilarejo no qual se passa a história). Crueldade extrema. Um vialrejo "pacato" na Alemanha do início do século XX. Estranhos e cruéis acontecimentos. A Igreja está lá para moldar e garantir que o bem prevaleça sobre os cidadãos. Para garantir a "integridade" e "pureza" das crianças (o fututro promissor), estas são amarradas com fitas brancas - normal. Como já disse Bertolt Brecht, "estranhar o normal, e fazer parecer normal o absurdo". Nada absurdo, perfeitamente plausível e normal, no fim do filme estourar a primeira guerra. Pouco depois o nazismo, a segunda guerra, e por aí vai...